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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Federico García Lorca - Sinto - Poesia

Sinto

Federico Garcia Lorca
Poesia De Federico García Lorca

Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.
Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
Tradução de Oscar Mendes in "Citador"


Confusão

Poesia de Federico García Lorca

Confusão

Meu coração
é teu coração?
Quem me reflexa pensamentos?
Quem me presta
esta paixão
sem raízes?
Por que muda meu traje
de cores?
Tudo é encruzilhada!
Por que vês no céu
tanta estrela?
Irmão, és tu
ou sou eu?
E estas mãos tão frias
são daquele?
Vejo-me pelos ocasos,
e um formigueiro de gente
anda por meu coração.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
Tradução de Oscar Mendes in "Citador"


Poema Duplo do lado de Eden

Poesia de Federico García Lorca

Marc Chagall - Adão e Eva expulsos do Paraíso
(A Eduardo Ugarte) :
"O nosso gado pasta, o vento espira." - 
Garcilaso de la Vega

Era a minha voz antiga
ignorante dos densos sumos amargos.
Adivinho-a a lamber-me os pés
sob os frágeis fetos molhados.

Ai voz antiga do meu amor!
Ai voz da minha verdade!
Ai voz de minhas costas abertas,
quando todas as rosas me brotavam da língua
e a relva não conhecia a impassível dentadura do cavalo!

Estás aqui a beber meu sangue,
a beber meu humor de menino passado,
enquanto meus olhos se quebram no vento
com o alumínio e as vozes dos bêbados.

Deixar-me passar a porta
onde Eva come formigas
e onde Adão fecunda peixes deslumbrados.
Deixar-me passar, homenzinhos dos cornos,
o bosque dos espreguiçamentos
e dos saltos alegríssimos.

Eu sei o uso mais secreto
que tem um velho alfinete oxidado
e sei o horror de uns olhos acordados
sobre a superfície concreta do prato.

Mas não quero mundo nem sonho, voz divina,
quero a minha liberdade, meu amor humano
no recanto mais escuro da brisa que ninguém queira.
Meu amor humano!

Esses cães marinhos perseguem-se
e o vento espreita troncos descuidados.
Oh voz antiga, queima com tua língua
esta voz de lata e de talco!

Quero chorar porque me dá gana,
como choram os meninos do banco mais atrás,
porque não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que ronda as coisas do outro lado.

Quero chorar ao dizer o meu nome,
rosa, menino e abeto na margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a troça e a sugestão do vocábulo.

Não, não. Eu não pergunto, eu desejo.
Voz minha libertada que me lambes as mãos. 

Federico García Lorca

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