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segunda-feira, 31 de março de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen - Ítaca - Poesia

Ítaca

Sophia
 Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando as luzes da noite se reflectirem imóveis nas águas verdes de Brindisi
Deixarás o cais confuso onde se agitam palavras passos remos e guindastes
A alegria estará em ti acesa como um fruto
Irás à proa entre os negrumes da noite
Sem nenhum vento sem nenhuma brisa só um sussurrar de búzio no silêncio

Mas pelo súbito balanço pressentirás os cabos
Quando o barco rolar na escuridão fechada
Estarás perdida no interior da noite no respirar do mar
Porque esta é a vigília de um segundo nascimento

O sol rente ao mar te acordará no intenso azul
Subirás devagar como os ressuscitados
Terás recuperado o teu selo a tua sabedoria inicial
Emergirás confirmada e reunida
Espantada e jovem como as estátuas arcaicas
Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto

Sophia de Mello Breyner Andresen in, "Geografia"


The Seven Year Itch - O Pecado Mora ao Lado - Filme

De Billy Wilder

Tom Ewell e Marilyn Monroe

Mais um filme memorável de Billy Wilder. A cena do metro em que a saia de Marilyn Monroe se levanta faz parte deste filme.
Dizem que o sétimo ano na vida de uma casal é o mais difícil. Este filme fala sobre esta passagem e sobre a tentação: que é de viver as férias sozinho, sem a mulher e o filho, e ter a Marilyn Monroe no apartamento ao lado. Humm... Um caso muito "bicudo"!
Existe muita fantasia neste filme e muito divertimento como é claro!

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pecado_Mora_ao_Lado

Francis Bacon - Pintura


Adoro o trabalho de Francis Bacon. Fui ver uma exposição dele há muitos anos atrás. O que mais me impressionou foi o tamanho dos quadros e o ambiente inquietante e distorcido das suas pinturas. Respondi a esta atmosfera com uma emoção de prazer, apesar de, sentir um grande sofrimento. O grito do autor!


Auto retrato
(1958)


"Estudo segundo o retrato do Papa Inocêncio X de Velázquez"
(1953)


"Três estudos para uma crucificação"
(1962)


"Retrato de Henrietta Moraes"
(1963)


"Figura tombada"

sábado, 29 de março de 2014

Wolfgang Amadeus Mozart - Música

Mozart 




"Eine Kleine Nachtmusic" acompanhou a minha infância. Hoje, dedico-lhe um lugar de destaque no meu blogue. Faz-me bem relembrar esses momentos. Haverá mais obras dele, brevemente.

Vaslav Nijinsky - Dança

Nijinsky em o "Espectro da rosa"


Ninjinsky foi um polémico bailarino e um coreografo visionário.

Nijinsky - Prélude à l´après midi d´un faune Prelúdio à tarde de um Fauno



Nijinsky - Les Ballets Russes 

Os Bailados Russos 




Montagem de Christian Comte

sexta-feira, 28 de março de 2014

Some Like it Hot - Quanto mais Quente Melhor - Filme - Portuguese & English Version

De Billy Wilder


Marilyn Monroe, Jack Lemmon e Tony Curtis


Adoro este filme! Adoro os três atores e o realizador. A trama é completamente louca e super divertida. Ver os dois protagonistas disfarçados de mulheres para fugirem à máfia é demais! No meio nasce duas histórias de amor e a deixa mais incrível do cinema: "Nobody´s Perfect!"
Um filme a não perder!

Está em Inglês. Bom filme!

I love this movie! I love the three actors and the director. The plot is completely crazy and super fun. Seeing the two protagonists disguised as women to escape the mafia is awesome! In the middle, two love stories are born and the most incredible cue in cinema: "Nobody's Perfect!"
A movie that should not be missed!





https://www.assistirfilmeshd.me/quanto-mais-quente-melhor-dublado.html


http://pt.wikipedia.org/wiki/Quanto_mais_Quente_Melhor

Camilo Pessanha - Lúbrica - Poesia

Lúbrica

Poema de Camilo Pessanha

Camilo Pessanha
Quando a vejo, de tarde, na alameda,
Arrastando com ar de antiga fada,
Pela rama da murta despontada,
A saia transparente de alva seda,
E medito no gozo que promete
A sua boca fresca, pequenina,
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete;
Pela mente me passa em nuvem densa
Um tropel infinito de desejos:
Quero, às vezes, sorvê-la, em grandes beijos,
Da luxúria febril na chama intensa...
Desejo, num transporte de gigante,
Estreitá-la de rijo entre meus braços,
Até quase esmagar nesses abraços
A sua carne branca e palpitante;
Como, da Ásia nos bosques tropicais
Apertam, em espiral auriluzente,
Os músculos hercúleos da serpente,
Aos troncos das palmeiras colossais.
Mas, depois, quando o peso do cansaço
A sepulta na morna letargia,
Dormitando, repousa, todo o dia,
À sombra da palmeira, o corpo lasso.

Gustav Klimt - O beijo
Assim, quisera eu, exausto, quando,
No delírio da gula todo absorto,
Me prostasse, embriagado, semimorto,
O vapor do prazer em sono brando;
Entrever, sobre fundo esvaecido,
Dos fantasmas da febre o incerto mar,
Mas sempre sob o azul do seu olhar,
Aspirando o frescor do seu vestido,
Como os ébrios chineses, delirantes,
Respiram, a dormir, o fumo quieto,
Que o seu longo cachimbo predileto
No ambiente espalhava pouco antes...
Se me lembra, porém, que essa doçura,
Efeito da inocência em que anda envolta,

Me foge, como um sonho, ou nuvem solta,
Ao ferir-lhe um só beijo a face pura;
Que há de dissipar-se no momento
Em que eu tentar correr para abraçá-la,
Miragem inconstante, que resvala
No horizonte do louco pensamento;
Quero admirá-la, então, tranqüilamente,
Em feliz apatia, de olhos fitos,
Como admiro o matiz dos passaritos,
Temendo que o ruído os afugente;
Para assim conservar-lhe a graça imensa,
E ver outros mordidos por desejos
De sorver sua carne, em grandes beijos,

Da luxúria febril na chama intensa...
Mas não posso contar: nada há que exceda
A nuvem de desejos que me esmaga,
Quando a vejo, da tarde à sombra vaga,
Passeando sozinha na alameda...

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

Sandra Soler  - Os Amantes da Terra Mãe 



terça-feira, 25 de março de 2014

Keith Jarrett - The Köln Concert - Música

(in english at the end of the portuguese message)


E se a música nos transportasse para o que entendemos ser o Paraíso. Um Paraíso com nuvens claras, deuses a saborear uvas, a beber vinho com o vento a despentear alegremente os seus cabelos. Pessoas inspiradoras a dar palestras aos recém chegados sobre como viver em harmonia e em paz, e uma música de fundo... E se, essa música, uma das possíveis para gratificar este panorama celestial, fosse "The Köln Concert" de Keith Jarrett. Ah... Como os anjos estariam felizes... O sol apareceria debaixo das nuvens, que algumas vezes sobrevoam a terra e choram de desespero, e livraria-nos de todo o mal com uma chuva de películas de felicidade a cair sobre nós, sobre todos os seres vivos. Oh Keith...tens um lugar especial à tua espera e eu estarei lá, sempre, para te ouvir.

 

If music transported us to what we understand to be "Paradise". A paradise with clear clouds, gods tasting grapes, drinking wine with the wind happily ruffling their hairs. Inspirational people giving talks to newcomers on how to live in harmony and peace, and a background music... And if that music, one of the possible ones to gratify this heavenly panorama was "The Köln Concert" by Keith Jarrett. Ah... How happy the angels would be … The sun would appear under the clouds, which sometimes fly over the earth and weep in despair, and deliver us from all evil with a rain of happiness falling on us, on all beings alive. Oh Keith … you have a special place waiting for you and I will be there, always, to hear you.

sábado, 22 de março de 2014

The Truth About Cats and Dogs - Toda a Verdade Sobre Cães e Gatos - Filme






Gosto deste filme. É uma comédia romântica e ligeira que nos deixa bem dispostos. Está no link abaixo e está em inglês.
Bom filme!
É só bloquer os links que aparecem.

http://solarmoviesonline.org/watch/the-truth-about-cats-dogs-1996-solarmovie.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Truth_About_Cats_%26_Dogs

Simon Armitage - Poema - Poesia

Poema

Poema de Simon Armitage

Simon Armitage

Frank O’Hara estava aberto na secretária
mas eu fui directo à lista telefónica.
Nick estava para fora, Joey ocupado, Jim ia
mesmo fazer café e porque é que eu não

aparecia. Eu tinha Astrud Gilberto
a cantar “Bim Bom” no meu walkman da Sony
e o sol secava a ardósia húmida dos
telhados. Entrei por ali dentro sem tocar

e ele ainda não estava vestido nem barbeado quando
atestamos o café até cima com o Scotch do velhote dele
(ainda eram só dez e meia mas que se lixe)
e levamos os jornais para o alpendre.

Os Talking Heads estavam na rádio. Eu
ia mesmo para falar do futebol
quando ele disse: “Ouve, ajudas-me a esvaziar o
guarda-roupa dela?” Eu disse: “Claro, Jim, o que quiseres.”

terça-feira, 18 de março de 2014

Johann Sebastian Bach - Música


Johann Sebastian  Bach

J.S. Bach - Christmas Oratorio BWV 248


Bach é uma incógnita para mim, uma incógnita e ao mesmo tempo uma grande paixão. Como é possível alguém deixar tantas obras, de altíssima qualidade, no período em que ele viveu. Tantos trabalhos! Tanto estudo! Muitas das suas obras eram para a igreja, e dessas obras destacam-se muitas, mas hoje quero partilhar o "Christmas Oratorio" visto que estamos, quase, a celebrar o Natal.
Em cima o concerto e a obra toda e em baixo um excerto muito bonito:"Jauchzet, frohlocket! auf, preiset die Tage"





 


Jauchzet, frohlocket! auf, preiset die Tage,
Rühmet, was heute der Höchste getan!
Lasset das Zagen, verbannet die Klage,
Stimmet voll Jauchzen und Fröhlichkeit an!
Dienet dem Höchsten mit herrlichen Chören,
Laßt uns den Namen des Herrschers verehren!

Alegrai-vos, regozijai, ide, louvai estes dias!
Bendizei o que o Altíssimo realizou hoje!
Deixai as queixas, apartai o pranto,
Prorrompei cheios de júbilo e alegria!
Ofertai ao Altíssimo canções de louvor,
Honremos pois o nome do Senhor!



A Paixão segundo São João - Johannes-Passion 


Sou uma fã incondicinal de Johann Sebastian Bach, gosto de tudo. Tantas obras podiam aparecer em primeiro lugar neste Blogue, mas, escolhi "A Paixão segundo São João" porque a abertura me faz voar, dançar, cantar, sonhar... Ela tem uma força tão contagiante que por pouco estamos numa outra dimensão, uma dimensão onde nos sentimos fora de nós. É simplesmente genial!


http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Sebastian_Bach

segunda-feira, 17 de março de 2014

Wislawa Szymborska - Adolescente - Poesia

ADOLESCENTE

Wislawa Szymborska
Poema de Wislawa Szymborska

Eu – adolescente?
Se, de repente, aparecesse aqui, agora, diante de mim,
saudá-la-ia como pessoa que me é próxima,
embora seja, para mim, estranha e distante?

Verter uma lágrima, beijar-lhe a testa
pela simples razão de termos
a mesma data de nascimento?

Tão poucas semelhanças entre nós,
quiçá, apenas os ossos são os mesmos,
a caixa craniana, as órbitas.

Já que os olhos dela parecem maiores,
as pestanas mais compridas, ela mais alta
e todo o seu corpo revestido
com uma pele lisa, sem mácula.

Na verdade, ligam-nos parentes e conhecidos,
no mundo dela, porém, quase todos estão vivos,
enquanto no meu já não há quase ninguém
deste círculo que tínhamos comum.

Somos tão diferentes uma da outra,
pensamos e falamos sobre coisas tão diferentes.
Ela pouco sabe –
mas com uma teimosia digna de melhores causas.
Eu sei muito mais –
mas sem nada saber ao certo.

Mostra-me uns poemas,
escritos com letra clara e cuidada,
como já há muito eu não escrevo.

Imagem retirada do Blogue "A Dupla Vida De V"
Leio esses poemas e leio.
Bem, talvez este daqui,
se o reduzirmos
e corrigirmos aqui e ali.
O resto nada de bom augura.

A conversa está difícil.
No seu pobre relógio,
o tempo ainda é vacilante e barato.
No meu, já é muito mais caro e preciso.

Na despedida nada, um breve sorriso
e nenhuma comoção.

Somente quando se afasta
e, apressada, se esquece do cachecol.

Um cachecol de pura lã,
às riscas coloridas
feito em croché para ela
pela nossa mãe.

Ainda hoje o tenho. 


Wislawa Szymborska








http://pt.wikipedia.org/wiki/Wis%C5%82awa_Szymborska

domingo, 16 de março de 2014

The Dictator - O Ditador - Filme

De Larry Charles


Sacha Baron Cohen




Sou uma grande fã de Sacha Baron Cohen. Faz uma crítica muito irónica aos "faits divers" e às actualidades com que nos deparamos no dia-a-dia. Ele, no fundo, é um grande artista e um grande humanista.

Encontrei o filme neste site, parece-me seguro. Vão rir de certeza!



http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Ditador_(filme)

terça-feira, 11 de março de 2014

Maria Severa Onofriana - Fado - Música - Filme

Maria Severa Onofriana


Tentei saber de onde vinha o Fado, "Fatum", destino, e quando se começou a cantar. Ora, o que descobri é que há muitas explicações sobre a sua origem e não são todas convergentes. O que me tinham dito é que o Fado vinha das invasões dos Mouros em Portugal. Aparentemente não é só, mesmo se, aparece na Mouraria.
No entanto, encontrei que a Maria Severa Onofriana foi, segundo o que li, a primeira fadista proveniente da Mouraria. Júlio Dantas escreveu uma novela sobre ela de onde foi retirado a história para o primeiro filme sonoro português realizado por Leitão de Barros "A Severa". Uma história de conquista e de amor.





Algumas imagens fazem lembrar Eisenstein



domingo, 9 de março de 2014

A.I. Artificial Intelligence - Inteligência Artificial - Filme

De Steven Spielberg




Inteligência Artificial é um filme comovente sobre a vida e o amor. Faz lembrar "Blade Runner", pois, nos dois filmes existem supra-humanos, máquinas, que estão em negação com as suas condições e nos dois existe uma sentimentalização das personagens. Elas procuram transformarem-se em humanos afim de viver, serem reconhecidos como merecedores de amores, afetos e de sentirem como eles.

Na Inteligência Artificial adoro as interpretações dos heróis, e sobretudo do Haley Joel Osmend.
Choro sempre no final!




http://pt.wikipedia.org/wiki/A.I._-_Intelig%C3%AAncia_Artificial

sexta-feira, 7 de março de 2014

Jacques Brel - Música

Jacques Brel

Sei que existem muitos artistas de renome que são extremamente importantes na vida das pessoas. Eu, tenho muitos e a cada dia que passa descubro outros. Jacques Brel sou eu! Sou o que ele cantou, o que ele respirou, o que ele detestou, o que ele amou. Um homem cujo a obra se toca e se sente no mais fundo das nossas entranhas. Não há que enganar ele faz-nos sentir!
Muitas são as músicas que adoro e que ouvi vezes sem conta durante uma grande parte da minha...vida. Esta mensagem/homenagem/partilha é um hino à vida, aproveitem!
É só clicar e estremecer...

Les Bergers - Os pastores

La Quete -A busca

Une île - Uma Ilha

La ville s´endormait - A Cidade Adormecia

Ces gens lá - Aquela gente

Amsterdam

Ne me quite pas - Não me deixes

La Chanson des Vieux Amants - A Canção dos Velhos Amantes

quinta-feira, 6 de março de 2014

Gustave Doré

Gustave Doré

Adoro Gustave Doré. Foi um ilustrador, desenhista, que utilizava a gravura para fazer as suas ilustrações e desenhos no século 19. Todo o seu trabalho tem uma luz, quase lúgubre, que dá um sensação de intensidade e de infinidade em cada traço. A luz aparece das profundezas e em alguns trabalhos assemelha-se à tranquilidade. Ilustrou várias histórias como "O Capuchinho Vermelho" e obras como a Bíblia e Dom Quixote, mas, a Divina Comédia é, para mim, o seu melhor trabalho. Todo o Inferno é tratado com uma força que se percebe a paixão do próprio Doré quando o tratou. Virgílio é belo, imponente, sensual e Dante é velho e cansado. As descobertas que eles fazem nas profundezas são retratadas, por Doré, de uma forma tão surpreendente que é de cortar a respiração em alguns momentos. De relembrar que esta Divina Comédia levou ao exílio de Dante. De relembrar também que foi escrita no século 14. Certo é que inspirou Gustave Doré de uma forma incrível. 

Dante e Virgílio se dirigindo para a entrada do Inferno, Gustavo Doré

O Cérbero - Guardião do Inferno, Gustave Doré

Os diabos e Virgílio, Gustave Doré


O gigante Anteu leva Dante e Virgílio ao último círculo do inferno, Gustave Doré

Os Arrependidos, (Purgatorio canto 5), Gustave Doré

"The Empyrean" (Paraiso canto 31), Gustave Doré

quarta-feira, 5 de março de 2014

Edgar Allan Poe - O Corvo - Poesia

O CORVO 

Poesia de Edga Allan Poe.

Edgar Allan  Poe
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio Dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.

Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Diz-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
O corvo por Gustave Doré

Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agourar dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-há nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta!

Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, diz a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Diz a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

O Corvo por Gustave Doré
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,

Libertar-se-à... nunca mais!

(Tradução de Frenando Pessoa)

terça-feira, 4 de março de 2014

The Mighty - Os Poderosos - Filme

De Peter Chelsom







Mais um filme que adoro! Os poderosos conta a história de um cavaleiro e do seu fiel servo. 

Uma amizade improvável que nos leva a viver as experiências, as esperanças e os medos dos dois rapazes. 

Ver este filme é como crescer um pouco como pessoa. Maravilhoso!

Só encontrei no link em anexo, e mais uma vez em inglês. Vale a pena ver na mesma...



http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Mighty

segunda-feira, 3 de março de 2014

Alexander Nevsky - Filme

De Sergeï Eisenstein







Sou fã de Eisenstein. Sou fã da sua filmagem, sou fã das expressões dos seus actores, sou fã e pronto! Vi este filme numa visita de estudo quando tinha apenas 12 anos. Nada fazia supor que miúdos no período pré-pubertário iam adorar as cenas deslavadas que aconteciam no ecrã. Fiquei fascinada pela cena de guerra no meio do gelo, do frio e do vento. A música clássica de Prokofiev tornava ainda mais místico e belo o filme aos meus olhos. Um filme cheio de simbolismos...
Hoje, tenho a colecção toda de Eisenstein e quero partilhar um pouco das emoções que vivi num dia frio, num teatro, num outro país!

As legendas estão em francês mas podem ser traduzidas para português.

domingo, 2 de março de 2014

Richard Wagner - Tannhäuser - Opera

De Richard Wagner


Vénus e Tannhäuser  por  Lawrence Koe



Uma opera interessante sobre o amor e os desejos encarnados por Vénus a Deusa do amor. As tentações são vistas como impuras, mas, os julgamentos dos homens não se sobrepõem à verdade e Tannhäuser encontra o perdão directamente dos céus. 

As legendas estão em inglês e em Espanhol.


sábado, 1 de março de 2014

An Affair to Remember - O Grande Amor da Minha Vida - Filme (1957) - Portuguese & English

De Leo McCarey

Cary Grant e Deborah Kerr




Podem me chamar de "Romântica incorrigível" que aceito isso muito bem, aliás, até confirmo e assino por baixo. Mais uma grande história de amor e um dos meus filmes de sempre. Cary Grant é super-charmoso e Deborah Kerr interpreta uma mulher liberal com um humor cortante. Este filme já é um "remake" de um outro filme que se chama "Love Affair" de 1939. Depois de "An Affair to Remember" de 1957, houve outro "remake" com Warren Beatty, Annette Benning e a grande Katharine Hepburn em "Love Affair" de 1994. O final é surpreendente e mais uma vez percebemos que o amor não tem barreiras. Um filme para ver, absolutamente!
Está em inglês.

You can call me an incorrigible romantic and I'll accept that just fine, in fact, I'll even confirm it and sign off on it. Another great love story and one of my all-time favourite films. Cary Grant is super-charming and Deborah Kerr plays a liberal woman with a cutting humour. This film is already a remake of another film called Love Affair from 1939. After 1957's An Affair to Remember, there was another remake with Warren Beatty, Annette Benning and the great Katharin Hepburn in 1994's Love Affair. The ending is surprising and once again we realize that love has no barriers. A film to see, absolutely!

Part 1 and Part 2.

O canto