Ítaca
Sophia |
Quando as luzes da noite se
reflectirem imóveis nas águas verdes de Brindisi
Deixarás o cais confuso onde se
agitam palavras passos remos e guindastes
A alegria estará em ti acesa como
um fruto
Irás à proa entre os negrumes da
noite
Sem nenhum vento sem nenhuma
brisa só um sussurrar de búzio no silêncio
Mas pelo súbito balanço
pressentirás os cabos
Quando o barco rolar na escuridão
fechada
Estarás perdida no interior da
noite no respirar do mar
Porque esta é a vigília de um
segundo nascimento
O sol rente ao mar te acordará no
intenso azul
Subirás devagar como os
ressuscitados
Terás recuperado o teu selo a tua
sabedoria inicial
Emergirás confirmada e reunida
Espantada e jovem como as
estátuas arcaicas
Com os gestos enrolados ainda nas
dobras do teu manto
Sophia de Mello Breyner Andresen in, "Geografia"
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