Robert Mulligan
Numa altura, em que estamos a testemunhar
protestos contra a violência policial nos estados unidos, que iniciaram com a
morte lenta de um cidadão negro, e ao que tudo indica um
assassinato com teor racista em Portugal, é o momento, para mim, de
dar a minha opinião sobre o que está a acontecer.
"Black lives Matter" é muito mais do que
isso. O racismo é, lamentavelmente, uma parte da nossa sociedade e é baseada no
facto que existe uma noção de superioridade em relação à cor da pele ou da
etnia, das pessoas.
Infelizmente, sempre existiu um sentimento
de superioridade dos homens em relação aos homens desde os
primórdios da humanidade. Esta superioridade é expressa por variadas razões,
cor, religião, etnia, dinheiro, género, fobias, que provocaram até agora
guerras e mortes incalculáveis. Parece que o sentimento que nos deveria
engrandecer em relação às outras espécies é o que nos afasta mais. A tal
"inteligência" que nos conferem e que, quando é colocada para o bem
comum é maravilhosa, mas, quando é colocada para interesses egoístas é a mais devastadora
que há.
Temos de repensar o nosso propósito. Parar
de nos unir em situações que não nos preenchem. Parar de acreditar em tudo e
ter um julgamento que participe no bem para nós e para os outros. Os homens
provaram, infelizmente, que não são capazes de ordenar a terra num caminho
certo. Hoje, temos governantes que se preocupam mais com os seus umbigos do que
com os seus cidadãos. São eleitos pela desordem que provocam ao seu redor. A
ilusão de um reino onde essa desordem se sobrepões à essência humana -
dividir com um ódio subjacente realçado nas profundezas da malvadez
fazendo campanhas onde a liberdade de matar, rebaixar, isolar, discriminar
outro ser humano, são enaltecidas como o caminho certo e esse caminho, não pode fazer parte da
liberdade de qualquer campanha eleitoral. Por isso, não se pode
promover, aceitar o uso de armas, de prisões, de mortes injustificadas.
O que aprendemos, durante a pandemia e
agora com os protestos, e como são geridos no mundo é que as mulheres devem ter
uma maior expressão nas diretrizes mundiais. Deveria haver mais mulheres nos governos. Não há nada que não sabemos fazer para estarmos sempre na cauda das decisões que muitas vezes são coordenadas entre interesses que não melhorem em nada a existência e temos muitas provas disso. Algumas mulheres são melhores, outras preferem equiparar-se aos homens nas suas governações ou aproximam-se deles e isso é o que devemos evitar. Quando uma mulher luta contra outra mulher é o pior que nos pode acontecer. As mulheres deveriam ser unidas. A mulher é capaz de bem melhor e devem, a
partir de hoje, e sempre, tomar as rédeas do mundo. Se houvesse uma greve, protestos das mulheres o mundo mudaria de certeza. Somos mães e temos muito
para oferecer - o nosso tempo é agora!
As religiões, por exemplo, uma fonte de
discórdia e de separação são ao meu ver uma maravilhosa forma de interiorizar
a vida e de dar um sentido à mesma. No entanto, durante séculos, têm vindo
a trazer um propósito desfigurado pela necessidade de poder que lhe é incutida
pelos homens e mulheres que as reclamam como sendo únicas. O propósito é nobre,
mas manchado pelo sangue que se derrama em nome delas. Deus tem várias caras e
todas elas deveriam obedecer ao supremo chamamento que é a transfiguração do
amor. As guerras e batalhas em nome de Deus, sejam elas quais forem não são a
resposta para a nossa humanidade. A mulher foi desrespeitada durante demasiado
tempo por escrituras que devem ser encaradas internamente e não interferir
nas suas, nas liberdades individuais. Hoje, são a fonte de retrocessos
demagogos para controlar as pessoas e as pessoas, demasiadas, pela incapacidade
de reconhecer o mal que está nos que se servem delas, aceitam crimes contra
outras pessoas que não são mais nem menos do que elas. Podemos falar
de todo o espectro de pessoas. Pessoas atacadas por causa dos que elas são,
podemos falar das mulheres, homens livres, homossexuais, transexuais, pessoas
de outras crenças, cor, proveniência ou apenas etnias. A humanidade precisa de
aceitar as diferenças se pretende que seja aceite como ela é.
A economia ultrapassou a humanidade.
Dão-nos um caminho falseado no conforto que protejamos para nós próprios.
Nada mais é nosso. Não temos direito aos nossos recursos, vendidos por
pertencerem a alguém. É estranho como a terra pode ser de
alguém quando ela é de todos nós. Estas leis e barreiras que a definem são
as que alguns sugam enquanto nós observamos a nossa morte lenta sem poder fazer nada. Não temos direito às nossas liberdades. Somos controlados
por tudo o que fazemos, o pensamento é a única coisa que ainda nos permite
ter uma certa integridade. Mesmo assim, em muitos sítios prevalece nos
autoclismos das casas de banho.
Estas diferenças que pensamos ter por
sermos diferentes geneticamente - não gostava que toda a gente fosse como eu - é
a fonte estúpida pela qual existe violência e mortes. Estas classes que
aparentemente são constituídas para poder oprimir realçam a nossas
mais reles atitudes. O elitismo, a venda de si próprio, não falo da venda de
pessoas contra as suas vontades, não a venda de nos próprios em prol do
nosso intrínseco ego é a fonte do nosso contrassenso.
Não podemos matar, oprimir, martirizar,
dizimar as pessoas, o mundo, os animais por todas as razões e por nenhuma
em particular, é essa a nossa vergonha.
"Black Lives Matter" é uma das várias expressões que nos permite reclamar a nossa identidade como seres humanos e perceber que essa pertença não se restringe apenas a um lugar ou país, mas, a todo o mundo como um só.
Nos EUA os negros " pretos" são mortes há demasiado tempo. Atenção as imagens são muito fortes e podem ferir as pessoas mais sensíveis.
Estas imagens foram a inspiração para uma música cantada por grandes cantoras negras. A primeira versão foi de Laura Duncan que não encontro, mas, foi Billie Holiday que a imortalizou. A letra da música e as imagens são difícies de encarrar. Como é possivel?
Letra:
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolia, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the tree to drop
Here is a strange and bitter crop"
É evidente que a batalha é enorme, e esses homens e mulheres oriundos do esclavagismo carregam um peso enorme sobre os seus ombros.
A Violência policial que acontece em qualquer parte do mundo deve ser erradicada. Violência que pode levar à morte, mas, que também em muitos casos denigra a vítima que faz queixa. Os governos devem apoiar as populações para que esta comunicação funcione. É triste ver cidadãos serem maltratados, brutalizados por reivindicar melhores condições de vida por outros cidadãos que vestem uma farda. Há muito por mudar nessa violência porque a imagem que queremos ter das forças de segurança é de apoio e de ajuda. Não devem, não podem, ao meu ver, matar como resposta a uma simples intercalação, uma pessoa sob custodia, irromper dentro de casa de uma pessoa a dormir e matar porque se enganaram, não podem matar se não correm perigo. Não podem sufocar até à morte um homem indefeso a pedir ajuda. Em 2015 Prince já cantava sobre Baltimore.
Baltimore
São os mais afetados e a resposta foi de culpabilização, por terem mais doenças cronicas por causa da alimentação ou por fumarem, beberem ou usarem drogas, apesar da população negra ser a população que está na linha da frente para o combate ao Covid 19.
A pandemia acabou por realçar essas desigualdades que são estruturais, por muitas razões - estereótipos, preconceitos, políticas de alojamento, acesso à escola, etc. Foi a ignição às violentas manifestações nos EUA.
É evidente que o tempo acabou por elaborar uma revolta nessas pessoas e pensando bem essa revolta é perfeitamente percetível.
“To Kill A Mockingbird” é um filme sobre o racismo
durante os anos 30. O livro que deu origem ao filme foi escrito por Harper Lee
e revela a injustiça que os negros viviam nessa altura. Não eram, não são
vistos como pessoas legitimas e merecedoras de equidade. Uma injustiça que
revela o pior dos seres humanos. O vídeo que partilho não tem uma muito boa qualidade, no entanto e apenas porque está em exibição no Cinema Nimas, amanhã, às 21h30, convido-vos a irem lá para verem com a magia do cinema.
É evidente que o racismo é baseado em falsos argumentos - não há pessoas inferiores com base na cor da pele. A liberdade de existir e de viver em comunidade deve ser o primeiro fundamento para a paz. infelizmente o que se passa e que não pode legitimar os discursos de odio é o medo que se tem, que a história inculcou na nossa convivência nas cidades - o medo e a insegurança. Muitas das pessoas que falam destas inseguranças, das que promovem estas inseguranças vivem longe das pessoas incutidas em guetos em termos espaciais e em termos internos, aquando da nossa própria reação às suas sobrevivências. Se estas pessoas são discriminadas, postas de parte, desempregadas, empregadas apenas para trabalhos difíceis, atacadas, mortas por causa da cor é evidente que a resposta só pode ser de violência para legitimar melhores condições de vida. Eu sou contra a violência, mas, a minha vida de "caucasiana" - de certeza que tenho muitas misturas dentro de mim - não me permitiu sentir isso, aqui, em Portugal. Mas senti-o em França onde cresci. Havia e há um partido que colocava a minha origem como algo de negativo para a França e os Franceses, e este sentimento é muito, muito mau. Em Portugal, não o sinto na minha pele, mas, como tenho um arco-íris que brilha dentro de mim, que foi ao longo dos anos a única fonte de discriminação que senti, além de ser mulher. Ser mulher é um processo muito complicado e mulher que pertence orgulhosamente à comunidade LGBTI, que a defende, defende a liberdade e a verdade acima de tudo, também o é. Sim, não é assim tão fácil, mesmo se tenho a sorte de viver num país com leis apropriadas e seguras em relação à comunidade. Pensando bem, se estas leis são importantes para manter uma pessoa segura na vida e no que ela é, é porque há qualquer coisa de errado na sociedade. Não se manifesta a importância dos direitos se eles já existem. A opressão é completamente errada e ninguém tem o direito de a utilizar sobre um outro ser humano. O sexo é "overrated".
To Kill a Mockingbird/english
The pandemic and Trump's response opened a huge wound between ethnic communities, hurt by the difference in response to health systems. The disparity in deaths between communities has shown that health is not for everyone.
Chelsi West Ohueri specializes in anthropology of medicine, studies racial health issues and lives in Austin, Texas. In an interview with Hypeness, she explains that the situation faced by blacks today is the result of years of difficulties in getting a health plan or making medicine a routine. “The reality before the corona-virus (and continues) is that black Americans attended decreasing access to the health care system in the United States. This, of course, is an effect of the systemic racism that structures this country ”, he points out. *
They are the most affected and the answer was blaming, for having more chronic illnesses due to food or for smoking, drinking or using drugs, despite the black population being the front line population to fight Covid 19.
The pandemic ended up highlighting these inequalities that are structural, for many reasons - stereotypes, prejudices, housing policies, access to school, etc. It was the ignition of the violent demonstrations in the USA.
It is evident that the time ended up creating a revolt in these people and when you think about it, it is perfectly noticeable.
“To Kill A Mockingbird” is a film about racism during the 1930s. The book that gave rise to the film was written by Harper Lee and reveals the injustice that black people lived at that time. They were not, they are not seen as legitimate and worthy people. An injustice that reveals the worst of human beings. The video I share does not have a very good quality, however and just because it is being shown at Cinema Nimas, tomorrow at 9:30 pm, I invite you to go there to see the magic of cinema.
How many more died in the USA without justice.
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