Já lá vão muitos anos, mas não há dia nenhum em que não me lembro dela...
Ela Chamava-se N
"Abracei-a anos atrás e
ela ficou em mim.
Nesse dia chovia,
estávamos em novembro. Lembro-me bem porque era o dia de aniversário do meu
pai. Por muito que eu tentasse evitar a atracão e a curiosidade, não havia como
ficar em casa, era mais forte do que eu, algo chamava-me de forma tão
incontrolada que dei um beijo ao meu pai e saí, a festa ficava para depois,
pelo menos para mim. Este chamamento era de tal forma inebriante que me fazia
lembrar o canto das sereias na viagem de Ulisses: intenso e perigoso. Estava
desamparada, mas só me apetecia estar com ela. A pele dela reluzia como se o
sol pertencesse à noite.
Entrei no carro com uma prenda, não a do meu pai não, a prenda que lhe tinha comprado às escondidas de todos. Sabia que ela estava à espera de mim, via-o nos seus olhos que apareciam na minha memória. O que poderia ela querer? Não podia ir de mãos a abanar. Tal mulher é algo que se tem e que se quer ter. Entrei na noite em direção à casa dos seus pais. Eles não estavam e eu, sem rei nem roque voava como o pássaro da noite. Se o vento fosse forte o suficiente levava -me de tão vazia que eu estava. Corpo frágil, esquecido.
Entrei no carro com uma prenda, não a do meu pai não, a prenda que lhe tinha comprado às escondidas de todos. Sabia que ela estava à espera de mim, via-o nos seus olhos que apareciam na minha memória. O que poderia ela querer? Não podia ir de mãos a abanar. Tal mulher é algo que se tem e que se quer ter. Entrei na noite em direção à casa dos seus pais. Eles não estavam e eu, sem rei nem roque voava como o pássaro da noite. Se o vento fosse forte o suficiente levava -me de tão vazia que eu estava. Corpo frágil, esquecido.
Cheguei tarde e ela estava expectante, deslumbrante como
sempre. Não sabia como a encarar, tudo fazia sentido e nada fazia sentido.
Aproximei-me e dei-lhe um beijo na face, não me tinha apercebido da penumbra
desenhada nos recantos da casa. Do nada ela agarra-me e abraça-me com uma força
que quase me estrangulava, sussurrando-me ao ouvido - "Este abraço é o
abraço que faz mais sentido na minha vida!”.
Se ela soubesse que esse abraço me
fazia morrer um pouco e desejar morrer nos seus braços para sempre. Morte? Não
a total claro, aquela que nos dá vida só de sentir a pele contra a nossa pele.
Senti-a como nunca tinha sentido alguém, congelei, queimei, transformei-me em
cinzas, Fénix e renasci com o beijo que ela posou na minha boca ofegante e
oferecida. Não houve tempo que passasse e passou sobre este momento de pura
magia. Até hoje me lembro. É a chama que aquece a minha vida. Amei-a, ainda a
amo. Já lá vão 10 anos."
Audrey Love 2016 (ASC)